Porque ficámos sem a Feira do Livro?


Quem é da Amadora ou por aqui passava por altura do mês de Setembro, recordar-se-á daquele que era um dos momentos mais altos da vida cultural do Concelho e daquilo que era e representava a Feira do Livro da Amadora: o Parque Delfim Guimarães, bem no coração da Cidade, repleto de stands de várias editoras e livreiros, numa Feira do Livro de grandes dimensões. Para mim e para muitos como eu, crianças e jovens era uma oportunidade única de tomarmos contacto com a oferta de livros de várias edições, de forma massiva e com um leque de oferta que em mais nenhum local do Concelho tínhamos e em mais nenhuma época do ano existia. Era o momento em que muitos dos amadorenses, mais velhos ou mais novos aguardavam pacientemente por esta altura do ano para ai darem azo à sua paixão literária e adquirirem os livros da sua preferência, num evento que a todos envolvia.

Certo é que com o passar dos anos a Feira do Livro da Amadora foi perdendo força, os stands de livros foram gradualmente sendo substituídos por outros expositores e feirantes que comercializavam outro tipo de produtos, até que há já uns anos, deixou mesmo de haver venda de livros por esta altura do ano no Parque Delfim Guimarães: a Feira do Livro acabou.

Sem qualquer razão plausível que sustentasse este fim, para mim injustificável é fácil procurar e encontrar igualmente fáceis argumentos, como a crise do mercado livreiro, a falta de interesse da população, até o desenvolvimento da tecnologia, etc.

Estes argumentos esbarram contudo de forma frontal com a realidade e não é preciso procurar muito para verificar isso mesmo. Aqui ao lado, em Lisboa, temos uma Feira do Livro anual, cujo sucesso é verificável a cada edição, onde ano após ano o número de stands aumenta, onde existe um forte interesse por parte das editoras e dos livreiros que ali vêm um momento alto para a divulgação e venda das obras que editam. Este ano foram 340 pavilhões, divididos por 140 expositores, centenas de eventos, como conferências, colóquios, apresentações de livros ou sessões de autógrafos, numa iniciativa cultural que marca a Capital e o País aquando da sua realização. A Feira do Livro de Lisboa bateu o record quer no número de pavilhões e expositores, quer no número de visitantes: foram mais de 500 000 (!). Foi a maior edição de sempre. De igual modo se refira que os indicadores que vão sendo divulgados relativamente à venda de livros em Portugal se revela esclarecedor, sendo os mais recentes segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), entre Abril e Junho de 2022, houve um aumento de 17,6% do número de livros vendidos em território nacional, face ao período homólogo de 2021. Foram vendidos no 2.ª trimestre deste ano 2 708 308 livros.

Estes dados, conhecidos, confirmam que há um cada vez maior interesse por parte dos portugueses pela leitura e pelos livros, o que merecia que se olhasse para eles com vontade de os acompanhar e de lhes dar resposta. Numa Cidade como a Amadora, com mais de 170 000 habitantes seria de grande importância a nível cultural e lúdico voltar a oferecer à Cidade uma Feira do Livro, que trouxesse à Amadora dezenas ou mesmo centenas de expositores de forma a acompanhar a evolução do mercado livreiro e oferecer à população um momento cultural de excelência.

Numa altura em que se comemora o 43.º aniversário da elevação da Amadora a Concelho, deixo esta reflexão, e com o desejo de a mesma poder ser levada a sério e a Feira do Livro da Amadora possa voltar a ser uma realidade e a marcar também as festividades anuais do nosso Concelho. A Amadora merece-o.

Post Scriptum: De lamentar que este ano o centro da Cidade, na Freguesia da Venteira, nomeadamente no Parque Delfim Guimarães, outrora epicentro das Festas da Cidade tenha sido completamente abandonado no que respeita as festividades do Concelho e que a Feira anual que substituiu a Feira do Livro e que ali tinha lugar todos os anos não se tivesse realizado este ano, um facto a que ninguém pode ficar indiferente.


Daniel Marques Rodrigues

Secretário-Geral da Comissão Politica da Secção da Amadora do Partido Social Democrata 

Líder da bancada do Partido Social Democrata na Assembleia de Freguesia da Venteira


 


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