Não posso deixar de sentir
revolta e indignação perante toda esta situação, numa altura em que assistimos
aos mais diversos ajuntamentos e aglomerados levados a cabo por parte dos nossos
responsáveis políticos e por parte das nossas autoridades, em nome única e
exclusivamente de uma finalidade: a propaganda.
Ainda esta semana, na Amadora, de onde sou natural, onde resido e exerço a minha actividade, uma sessão de toma da vacina, juntou entre membros do Governo, membros da Câmara Municipal da Amadora e respectivos staffs, jornalistas e fotógrafos, bem mais do que 3 pessoas como a imagem demonstra, num reduzido espaço onde se administravam vacinas. Num acto em que bastava estar o profissional de saúde que iria administrar a vacina e quem a iria receber, sendo que todos os outros presentes em nada eram necessários ao acto, tendo como única função a habitual propaganda à qual já todos estamos habituados.
Ao invés, aquando da rotura da
rede de oxigénio no Hospital que serve o nosso Concelho, o Dr. Fernando
Fonseca, há 2 semanas, e quando era preciso uma voz de comando para acalmar e
explicar o que se estava a passar, ou exigir ao Ministério da Saúde
explicações, ninguém veio dar a cara…
Repare-se que aqui na Amadora
esta não é nem foi situação única, ainda em Setembro, numa altura já bastante
complicada em que a Cidade tinha indices elevadíssimos de contagio, não se
prescindiu de uma sessão de comemoração no aniversário da Câmara com pompa e
circunstância e com a presença de dezenas de convidados e o habitual batalhão jornalístico
para efeitos de propaganda.
É este o estado de coisas que
vivemos actualmente. Os direitos mais elementares dos cidadãos são postos em
causa, são suprimidos, são violados de forma grosseira, em nome do combate à Pandemia, enquanto que os nosso responsáveis e profissionais políticos continuam
a poder fazer as suas manobras propagandísticas, sem qualquer restrição.
É moral ajuntamentos deste tipo,
quando se impede o acompanhamento a uma cidadão por parte do seu advogado, em
que no total estariam 3 pessoas naquele dito atendimento?
É normal e moral haver milhares
de empresas, de vários ramos, como a hotelaria e a restauração, ou mesmo as
livrarias e outros ramos do comércio, a terem de fechar de forma peremptória,
estando hoje completamente arrasadas em termos de sustentabilidade, sem lhes
ter sido dada a oportunidade de à sua maneira enfrentar esta crise sanitária,
quando temos ajuntamentos destes em nome da propaganda e da boa imagem de quem
nos Governa?
É moral haver centros de saúde,
que são muitas vezes o único meio de acesso dos cidadãos a cuidados de saúde a
recusar consultas e a obrigar que todas as comunicações sejam feitas pela via
electrónica, em nome da proibição de ajuntamentos, quando quem deveria dar o
exemplo não o faz?
E os funerais? Com famílias desfeitas
por não poderem dizer um último adeus a quem parte, de modo a evitar
aglomerados?
E os transportes públicos? Com dezenas
de cidadãos aglomerados como sardinha enlatada, que segundo o nosso Governo não
representa perigo de transmissão de Covid-19, mas ao invés vê-se grande perigo
em uma cidadã se fazer acompanhar pelo seu advogado perante uma autoridade,
num total de 3 pessoas?
E as Reuniões de Câmara,
Assembleias Municipais e de Freguesia? Que passaram a ser on-line e por videoconferência,
com a impossibilidade dos cidadãos nelas participarem de forma efectiva e
directa? Admite-se que continuem a ser realizadas por esta via quando ao lado
assistimos a ajuntamentos de dezenas de pessoas, com o único intuito de posar
para a fotografia?
É um desabafo, de revolta por
parte de alguém que lida directamente há vários anos com pessoas, ouve queixas,
e assiste a situações limite por parte de cidadãos comuns e que não pode deixar
passar esta situação em branco. Enquanto advogado que sou, e eleito à
Assembleia de Freguesia da Venteira, tenho também pena de este ser o único meio,
um blog que foi criado para de forma a que os eleitos do Partido Social
Democrata possam prestar contas à população, a par da redes sociais, sejam os
únicos meios disponíveis para o fazer. Pois enquanto autarca eleito, e enquanto
membro representativo de uma classe profissional na Cidade da Amadora – a Ordem
dos Advogados Portugueses, nem eu nem ninguém que me acompanha foi contactado por nenhum órgão de comunicação
social para o que quer que fosse, o que é bem revelador da Cidade que temos e
de que a visibilidade e o direito a poder dar a sua opinião: não é para todos.
Mas face a situações como esta,
recordo sempre Sá Carneiro: “O que não posso, porque não tenho esse direito, é
calar-me, seja sob que pretexto for.”
Daniel Marques Rodrigues
Secretário-Geral da Comissão Politica do Partido Social Democrata da Amadora
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